segunda-feira, maio 05, 2008

Espelho - João Nogueira



Nascido no subúrbio nos melhores dias

Com votos da família de vida feliz

Andar e pilotar um pássaro de aço

Sonhava ao fim do dia ao me descer cansaço

Com as fardas mais bonitas desse meu país

O pai de anel no dedo e dedo na viola

Sorria e parecia mesmo ser feliz


Eh, vida boa

Quanto tempo faz

Que felicidade!

E que vontade de tocar viola de verdade

E de fazer canções como as que fez meu pai


Num dia de tristeza me faltou o velho

E falta lhe confesso que inda hoje faz

E eu me abracei na bola e pensei ser um dia

Um craque da pelota ao me tornar rapaz

Um dia chutei mal e machuquei o dedo

E sem ter mais o velho pra tirar o medo

Foi mais uma vontade que ficou pra trás


Eh, vida à toa

Vai no tempo vai

E eu sem ter maldade

Na inocência de criança de tão pouca idade

Troquei de mal com Deus por me levar meu pai


E assim crescendo eu fui me criando sozinho

Aprendendo na rua, na escola e no lar

Um dia me tornei o bambambã da esquina

Em toda brincadeira, em briga, em namorar

Até que um dia eu tive que largar o estudo

E trabalhar na rua sustentando tudo

E assim sem perceber eu era adulto já


Eh, vida voa

Vai no tempo, vai

Ai, mas que saudade

Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade

E orgulho de seu filho ser igual seu pai

Pois me beijaram a boca e me tornei poeta

Mas tão habituado com o adverso

Eu temo se um dia me machuca o verso

E o meu medo maior é o espelho se quebrar

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